Como um testemunho de Maria Manuela Mota – porque as associações são feitas pelas pessoas – contamos aqui a história da APOM até 2005.
Uma visão muito pessoal da antiga Presidente da APOM (1974-1991),
Maria Manuela Soares de Oliveira Mota
Pioneiros (1965 – 1974)
Corria o ano de 1962, duas jovens Conservadoras ( Maria Helena Maia e Melo e Maria Manuela Soares de Oliveira ) discorriam sobre o interesse que tinham os amigáveis passeios culturais pelo país e as sessões informais promovidas pelo Dr. João Couto, às 3as., feiras no Museu Nacional de Arte Antiga. Com efeito, para além da recensão bibliográfica actualizada, eram apresentadas, no decorrer dessa sessões, por conservadores, historiadores, restauradores e críticos de arte, variados temas das suas especialidades, dando lugar a interessantíssimos e por vezes acessos debates, sempre com o maior proveito para quem os ouvia, nomeadamente para quem se iniciava na diversificada carreira dos museus.
Passar de aí para a possibilidade de se criar uma associação, que além das reuniões e visitas culturais, fomentasse colóquios a nível de todos os museus do País, foi ideia que germinou na mente das duas conservaras que dentro em pouco a transmitiram à Drª. Maria José de Mendonça, por lhes parecer a pessoa mais adequada para ponderar e dinamizar este sonho.
Não se enganaram! Passados dois anos, a Drª Maria José, no decorrer de uma das célebres reuniões das 3as. feiras, no M.N.A.A..propôs a criação de uma associação, a A.P.O.M. – (inspirada na sua congénere internacional, o Icom ) com um grupo de promotores constituído por ela própria, assessorada pelos drs. Carlos de Azevedo, Adriano de Gusmão e Maria João Madeira Rodrigues. A ideia foi recebida com geral agrado.
Em 17 de Setembro de 1965, vencendo as muitas dificuldades que o governo punha à constituição de associações de profissionais, foi criada a APOM por despacho ministerial sendo os estatutos publicados em Diário do Governo de 14 de Outubro (3ª. série) do mesmo ano. Pelas razões apontadas, a associação,alem de museólogos, incluía especialistas das várias ciências que enformam a museologia.
Em 12 de Outubro foram eleitos os primeiros corpos gerentes : Dr. Mário Tavares Chicó, Presidente da Assembleia Geral e Drª. Maria José de Mendonça, Presidente da Direcção. Por proposta desta , o Dr. João Couto “pela sua prestigiosa e exemplar obra de museólogo insigne e por todo o grande interesse com que acompanhou a constituição da Apom” foi por unanimidade nomeado primeiro sócio honorário
Sob a presidência da Drª. Maria José (1965-67) e ( 1969-74) do Engº. Santos Simões (1967-69) . e ainda da breve passagem do Dr. Veiga de Oliveira (1974), a Apom dedicou-se e organizar várias reuniões de debate e informação, visitas de estudo dentro e fora de Lisboa e, em 1967, um seminário de âmbito nacional muito participado : “Museus e Educação”que deu lugar, em 1971, a uma interessante publicação com o mesmo título, a qual teve referências elogiosas em“Annales des Musées”, em França. Em Agosto de 1967 teve lugar um outro empreendimento de vulto, a exposição sobre “A Obra do Dr. João Couto no Museu de Arte Antiga”
Também se procurou editar um Boletim da associação, tendo saído um número sem continuidade, em Janeiro de 1967. Desde então, a Apom conheceu períodos de maior e menor actividade como é natural neste tipo de associações.
No seminário que teve lugar em 13 de Janeiro de 1973 sob o tema “ Actividades e expansão da Apom” e onde estiveram presentes cerca de 50 sócios, constituíram-se grupos de trabalho para tratar dos seguintes temas a)- elaboração de um ficheiro geral dos Museus, Colecções e Palácios Nacionais, b)- elaboração de um programa de visitas guiadas para sócios, c)- organização de exposições itinerantes e d)- promoção da edição regular do Boletim Apom.
Pode dizer-se que, neste seminário, se deu uma forte revitalização associativa, já que os vários grupos de sócios começaram de uma forma autónoma, criativa e dinâmica a desenvolver os vários temas propostos. A comprová-lo está o aparecimento do primeiro número de Apom- Informações logo em Abril desse ano e que se manteve durante 11 anos sem interrupção com uma periodicidade trimestral.
Surgem no entretanto as vicissitudes próprias de uma revolução no país, a que a Apom não ficou imune. O 25 de Abril de 1974 trouxe, com as novas ideias, possibilidades mais amplas à Associação e também alguns obstáculos que foi necessário vencer.
Dinamizadores (1974-1991)
Em Setembro de 74, perante a indisponibilidade por motivos de saúde, do então Presidente da Direcção, Dr. Veiga de Oliveira, fui escolhida para temporariamente exercer aquelas funções, sendo eleita, em Novembro do mesmo ano, em A.G, extraordinária, para o substituir. Deparei-me com dois problemas magnos : a democratização da Apom (sua transformação em Sindicato que era então panaceia genérica ) e a reformulação dos estatutos, a necessitar de actualização.
Foi promovida uma magna reunião debate, para se tratar do primeiro assunto, num grande pavilhão da Feira Popular, em Lisboa, incluindo todo o pessoal dos Museus, tendo o Norte comparecido em peso com estandartes e palavras de ordem Foi uma reunião épica em que felizmente se gorou a ideia da transformação da Apom em sindicato já que este não servia os fins estatutários da mesma : “estudo da museologia e dos domínios que e a enformam“.
Em Março de 1975, a Apom lançou-se na primeira experiência de actividades além-fronteiras, com uma visita de estudo à Itália do Sul e à Sicília greco-romana, no seguimento de uma notável exposição sobre Pompeia, que teve lugar na sede de Fundação Calouste Gulbenkian. Embora o grupo de participantes fosse reduzido a 12 elementos. a viagem revestiu-se do maior interesse, tendo sido feitas duas sessões de estudo para sócios e elaborado um relatório, pela Drª Irisalva Moita, para a referida Fundação, que subsidiou a iniciativa.
No início de Novembro desse ano, teve lugar, com o patrocínio da Secretaria de Estado da Cultura e o apoio da Câmara Municipal da Figueira da Foz, o primeiro Colóquio Apom que reuniu 120 participantes vindos de todas as zonas do país. Este abria-se às múltiplas opiniões do conceito de museus, à inserção deste na sociedade e à sua participação activa na vida das comunidade, fomentando uma ampla discussão.
O tema era propositadamente provocatório : Museus, para quê?
Foram três intensos dias de convívio, debates e visitas, com numerosas comunicações apresentadas, permitindo concluir sobre a actualidade da instituição Museu, a necessidade da sua reestruturação dentro do Departamento da Cultura, a premência da definição de Museu e a promoção das carreiras profissionais a todos os níveis.
Os anos que se seguiram foram de intensa actividade e participação na museologia nacional e na vida associativa.
Graças aos excelentes apoios que tive dos meus colegas, nas diferentes Direcções que liderei, à participação cada vez mais numerosa e esclarecida dos sócios e ao trabalho verdadeiramente notável dos grupos que se constituíram para tratar de assuntos pontuais, pode dizer-se que a Apom então deu um grande passo em frente e foi incentivo para o modo como as entidades oficiais passaram a considerar a instituição museológica.
A constante apresentação de relatórios , estudos, propostas e conclusões sobre o diferentes problemas dos nossos museus levou a que a Apom viesse a integrar o Conselho Nacional de Cultura, a funcionar no âmbito da Secretaria de Estado da Cultura (1976) e se tornasse mais tarde membro do Conselho Consultivo do Instituto Português dos Museus e do Instituto Português do Património Cultural
Alem das interessantíssimas visitas de estudo a numerosos museus e exposições e sítios arqueológicos do todo o país e das reuniões mensais de sócios para apresentação e debate de temas museológicos, realizaram-se os seguintes eventos:
Colóquios
Além de “Museus Para Quê?” na Figueira da Foz, em 1975, a que já nos referimos , e onde fomos recebidos cordialmente pela Directora do Museu Santos Rocha, drª. Isabel Pereira outros, largamente participados e em que o convívio e as visitas culturais eram parte integrante e animada, trouxeram à luz os diferentes problemas com que se debatiam os museus e, quantas vezes a vontade férrea e os prodígios de imaginação necessários da parte dos seus responsáveis para os fazer funcionar do melhor modo possível. Para muitos desses Colóquios foram convidados especialistas estrangeiros, que nos deram contributos válidos e actualizados ,como por exemplo: Georges Henri Riviére, Tibor Seikell, Noblecourt, Per Uno Ägren, Frank Gery e o apoio infalível de Mme. Olcina do Centro de Documentação do Icom.
Não podemos deixar de mencionar a amabilidade com que os Museus locais sempre nos receberam, a gentileza e comparticipação das autarquias, cientes do importante papel dos seus Museus e ainda a cobertura que lhes foi dada pelos meios de comunicação local e regional. Assim se manteve viva a convivência e aproximação dos Museus Portugueses que se foram actualizando e desbravando novos caminhos o que não existia a nível oficial.
1976 – Porto “ Panorama Museológico Português”. Este Colóquio realizado no Museu Nacional de Soares dos Reis, cuja directora era então a drª Maria Emília Amaral Teixeira teve larga adesão – 142 participantes . Aqui foram lançadas sugestões da maior actualidade que vieram futuramente a concretizar-se : necessidade de um Instituto Português de Museus, de uma Rede Nacional de Museus e de uma maior exploração do potencial intercâmbio Museu-Escola. Teve ainda o mérito de estreitar a colaboração de Lisboa com o Porto, não sendo raro ver participar activamente, nas reuniões de Lisboa, os arquitectos Lixa Felgueiras e António Meneres ou o pintor Fernando Lanhas.
1977 – Ponta Delgada “Museus de Região”Coincidindo com o primeiro centenário do museu Carlos Machado, e com a colaboração do seu Director, dr. Nestor de Sousa, reunimo-nos em Ponta Delgada, onde foi focado o papel importantíssimo dos Museus de Região na dinamização cultural das populações em que estão inseridos. Foram feitas visitas a Museus de outras ilhas do arquipélago..
1978 – Coimbra “Museus Universitários”. Dinamizado pelo dr. Henrique Coutinho Gouveia, este Colóquio constituiu um marco para a maioria dos museólogos, pois foi uma abertura no conhecimento da riqueza patrimonial dos Museus de Ciência em Portugal, nomeadamente os do foro universitário.
1979 – Lisboa “ A carta Museológica” que teve lugar no recém inaugurado Museu Nacional de Etnologia e a dinamização da equipa liderada pelo Dr. Ernesto Veiga de Oliveira, fez ressaltar a urgência da definição de museu e sua classificação e ainda a necessidade da elaboração de inventários.
1981 – Lamego “Museus e Informática”.No Museu regional, de riquíssimo espólio, fomos recebidos pelo director, dr. Abel Flórido, que não se poupou a esforços para que a Apom tivesse, da parte das entidades civis e religiosas, uma recepção condigna. Entre outros assuntos, foi chamada a atenção para a importância de se dotarem os Museus com os novos meios da técnica. Foram feitas visitas a lugares históricos e monumentais do concelho.
1982 – Évora “ Museus e Monumentos” que teve lugar no museu reginal daquela cidade e o apoio da drª. Maria Alice Chicó, acentuou a necessidade de aproximar o património monumental das técnicas museológicas. A ocasião serviu para se visitar Vila Viçosa e Évora-Monte
1985 – Sintra “ Museus moderno : Conceitos e Contextos”. Com o apoio da Câmara Municipal principalmente do bibliotecário dr. José Manuel Cardim Ribeiro, e o entusiasmo das drªs. Elisabete Cabral e Maria Luísa Abreu Nunes, este Colóquio, realizado na Biblioteca Municipal , acentuou o serviço que o museu, o palácio ou o humilde testemunho das populações pode prestar á comunidade. Foram feitas visitas a sítios menos conhecidos da região.
1986 – Faro “Museus e extensão cultural” Viver o passado, foi o tema deste Colóquio, baseado na técnica inglesa de “Living History” tendo o apoio de dois especialistas vindos de Suffolk; Patrick Redsell e Stephen Wolfenden. Os participantes foram divididos em grupos, apresentando no fim sugestões variadas e bem documentadas de como fazer viver a história e as tradições através dos museus.
1987 – Lisboa “ A Escola vai ao Museu”, decorreu no Palácio Galveias e teve largo apoio da Cãmra Municipal de Lisboa e das drºs. Irisalva Moita e Raquel Florentino Dando continuidade ao tema anterior foram convidados professores e pedagogos a participar, assim como os já referidos técnicos ingleses e alguns brasileiros com experiência de “história ao vivo”, sendo apresentada uma exposição e respectivo catálogo com o desenvolvimento dos projectos anteriores. Esse catálogo serviu de base para muitos projectos de “História ao Vivo” levados a efeito pelos museus, escolas e autarquias. Isabel Marnoto, Matilde Rosa Araújo e Agostinho da Silva foram convidados a expor as suas teorias pedagógicas.
– Aveiro “Arquitectura de Museus” e “Formação profissional ” realizado no Museu regional , com a colaboração entusiasta da sua Directora, a pintora Maria Clementina Quaresma e da sua equipa. Com a participação de alguns arquitectos de nomeada, incluindo professores das escolas superiores de arquitectura, acentuou bem a necessidade de um diálogo permanente e esclarecido entre estes e os museólogos sempre que se trate de construir ou transformar museus. Foi participado pelo Arquitecto Frank Gery, a convite dos serviços culturais da Embaixada dos E.U.A. o que originou debates muito enriquecedores.
1990 – Funchal “ Perspectivas para a década de 90”,talvez o mais entusiásticamente vivido pela cidade anfitriã e donde, estou certa, nasceu um grade impulso para os Museus da região da Madeira. Embora fosse o Museu de Arte Sacra e a sua Directora , drª. Luísa Clode quem calorosamente nos recebeu, os restantes Museus do Funchal foram extremamente receptivos à iniciativa, assim como as forças vivas da Região. Aí se celebraram os 25 anos da Apom, tendo sido editado pelos C.T.T. um carimbo comemorativo.
1991– Viseu “ O Livro Branco dos Museus”. Comemorando os 75 anos do Museu Grão Vasco e com o esclarecido apoio do seu Directos dr. Alberto Correia, fez-se a análise das capacidades, dos objectivos e da política museológica que tínhamos e da que pretendíamos . Fazemos notar que a 9 de Agosto desse ano foi criado o Instituto Português de Museus, proposto pela Apom em 1976.
VISITAS DE ESTUDO AO ESTRANGEIRO
Contando com subsídios da Secretaria de Estado da Cultura, da Fundação Calouste Gulbenkian e dos Serviços Culturais das Embaixadas dos Países visitados fizemos numerosas e proveitosas visitas de estudo, sempre que possível estabelecendo diàlogo com os nossos colegas estrangeiros.
Em 1975, como já mencionámos, realizou-se uma visita aos museus e sítios arqueológicos de Nápoles e da Sicília.
Em 1976, deu-se continuidade à anterior, visitando as mais notáveis ruínas romanas da Tunísia, os museus, monumentos e locais de fixação árabe. Ao invés da primeira esta visita foi muito participada , tendo igualmente sido feito um relatório pela Drª Irisalva Moita que foi entregue á Fundação Calouste Gulbenkian. Igualmente um filme sobre a Tunísia foi realizado e oferecido pelo seu autor, Carlos Vitorino da Silva Barros, ao Dr. Azeredo Perdigão que muito o apreciou. Algumas viagens posteriores foram igualmente filmadas pelo Carlos Barros.
Em 1977 foi o Egipto com as suas ruínas e o Museu das Antiguidades Egípcias que teve a nossa atenção e nem o calor do deserto escaldante esfriou o nosso entusiasmo..
Em 1979 deslocámo-nos à Grécia e aos seus monumentos onde rematámos , em beleza, o circuito arqueológico.
Em 1982 a Provença atraíu-nos com as suas cidades recheadas de museus e vestígios arqueológicos, de reminiscências de Van Gogh e de Gauguin e de tradições populares, de que o Museu da Camarga era então epítome.
Em 1984 foi Marrocos que nos encantou e em 1986 deslocámo-nos à Turquia onde então tinha lugar a XVIIIª Exposição do Conselho da Europa sobre as Civilizações da Anatólia.
Em 1987, com a colaboração dos Serviços Culturais da Embaixada da Alemanha ,fizemos uma visita espectacular a vários museus daquele país nomeadamente os de Munique,Estugarda,Francoforte, Münchengladbach, Dortmund e Colónia, considerados dos mais evoluídos em matéria museológica. Sempre que possível fomos acompanhados pelos respectivos directores .
Em 1990 foi a visita à URSS . Se os museus de Moscovo nos deixaram encantados, o Hermitage em Leninegrado esmagou-nos com as suas colecções. Acresce que tivemos oportunidade de sermos recebidos pelo Director, Dr. Pietrovsky, que num gesto de amabilidade nos permitiu visitar as salas do Tesouro as quais não estão habitualmente abertas ao público.
Em 1991, decorrendo na Bélgica as várias exposições da Eropália dedicadas a Portugal organizou-se uma visita ás várias cidades e museus em que estas estavam patentes
No âmbito do trabalho realizado pelos diversos grupos salientamos:
– Publicação bastante regular entre 1973 e 1990 do Boletim Apom-Informações, sob a Direcção do professor Dr. Bragança Gil. Este boletim é essencial para se aquilatar do trabalho realizado pela Apom em prol dos museus portugueses, onde, salvo exemplares e raras excepções, reinava o mais profundo desconhecimento e abandono. Se não era a idade da Pedra era pelo menos a idade das trevas medievais para muitos dos nosso ;Museus. Este boletim foi publicado com regularidade entre 1973 e 1984 sendo posteriormente substituído pelo Boletim conjunto Icom – Apom e pelos “Cadernos de Museologia”
– Protecção dos bens culturais contra incêndios, tendo-se promovido várias encontros com especialistas nacionais e estrangeiros para tão premente assunto.Bastará lembrar o pavoroso incêndio que destruiu a Galeria D, Fernando, no Palácio Nacional da Ajuda em Setembro de 1974 e o que atingiu, em 18 de Março de 1977,secções de museologia do Laboratório Geológico da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e a anexa capela do Palácio Palmela, não mencionando outros igualmente assustadores. Prestou-nos de uma colaboração ímpar o Engenheiro Noblecourt, além do Chefe Fino dos Bombeiros Municipais.
– O Museu e a Escola foi um grupo que desenvolveu com bastante eficiência ao aspectos didáticos da actividade museológica, vindo a culminar na realização do colóquio “O Museu vai à escola “ que foi muitíssimo participado e do qual decorreram acções pedagógicas de longa duração , entre as quais salientamos as “História ao Vivo” nas quais participaram milhares de alunos e numerosos museus.
– A organização do arquivo dos Museus foi outro trabalho a que os sócios se dedicaram com afinco e que deu lugar à primeira “carta museológica” a qual permitiu uma visão mais integrada do panorama museológico português nas suas várias vertentes e suas muitas carências.
– Curso de Museologia. Em Portugal a formação de conservador de museu foi feita ao nível universitário desde 1932, primeiro como um estágio( até 1945), reorganizado em 1953, funcionou até 1962 e transformado em curso de Conservador em 1965 pelo Decreto-Lei 46.758. Este curso começou a funcionar em 1968 sendo suspenso em 1974 para remodelação. (para mais detalhes consultar: Maria José de Mendonça in Apom-Informações, nº.17, Outubro – Dezembro 1977).
Com este curso formavam-se conservadores para Palácios, Museus e Monumentos
Nacionais, portanto predominantemente nas áreas de belas artes e arqueologia, com exclusão da preparação de profissionais para museus de etnologia, ciência e técnica. Com esta finalidade, a Apom constituiu um grupo de trabalho que se debruçou sobre o problema desde Março de 1976. Após numerosas e acaloradas reuniões, o projecto de uma licenciatura em Museologia para todo o tipo de Museus foi apresentado em 1977 ao Primeiro Ministro da República e foi divulgado pelos sócios através de Apom-Informações nº.17
Começou aí um dos calvários que foi o da sua apresentação e discussão com as diferentes entidades (Secretaria de Estado da Cultura, reitores de várias Universidades, IPPC, etc) para no fim nada resultar no que se refere a uma licenciatura.
A então Presidente do IPPC, Drª. Natália Correia Guedes, dada a necessidade do preenchimento de vagas e a carência na formação de novos conservadores, instituiu em 1979,. um curso intensivo de 6 meses, para técnicos com 2 anos de experiência, ao qual se seguiu em 1981-83, um curso com a duração de dois anos, em moldes muito semelhantes á proposta da Apom. Contestado pelos alunos , por não ser equiparado a um Mestrado, o curso foi novamente suspenso.
. Outro curso, entre 1989 e 1991, desta vez com o apoio logístico e pedagógico de Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, o apoio financeiro do IEFP e a colaboração da Apom, teve lugar entre 1989 e 1991
Estes três cursos foram completados com conferências, visitas e trabalhos, estágios em Museus, e apresentação de trabalho final, sujeito a um júri.
– Publicações
Além da publicação de várias actas dos Colóquios ( 1975, 76,78, 79, 85, 87 e 89). de Apom-Informações ( de 1973 a 1984) e de quatro Cadernos de Museologia dedicados respectivamente ao Museu de Electricidade, aos Museus Portugueses de História Natural, Museus de Zoologia e Investigação Científica e ainda aos Museus de Sintra (extratos das actas do Colóquio Apom 85), foram publicados dois roteiros, em formato desdobrável, sobre os Museus das regiões de Lisboa e do Porto e um catálogo da exposição “História ao Vivo” que teve lugar no Palácio Galveias em 1987.
Conclusão
Em 1991, havendo outros sócios disponíveis para assumir a Direcção e tornando-se óbvio a necessidade de uma renovação, não me candidatei aos corpos gerentes.
Descrevi, 25 anos cruciais para o desenvolvimento da consciência do importantíssimo lugar que os Museus podem desempenhar ao serviço da cultura, quando dotados de pessoal habilitado, meios suficientes e instalações condignas.
Só bem enquadrados pelas autoridades da tutela se torna possível esse desempenho e julgo poder afirmar que a Apom contribuiu substancialmente para que hoje exista essa consciência a nível nacional e regional, que é atestada pela existência do Instituto Português de Museus e pela contribuição notável da Rede Portuguesa de Museus.
Os diversos graus em Museologia de nível universitário, sendo embora uma contribuição extremamente válida para a formação dos quadros dos Museus, não preenchem ainda cabalmente o desejo de formação integral proposto pela Apom.
Tanto aos colegas que estão em plena actividade na museologia, como aos que se reformaram mas que a ela continuam ligados, como aos que nos deixaram já mas cujo entusiasmo e colaboração marcaram indelevelmente a nossa associação e para os quais vai a nossa muita saudade, se deve a inegável projecção desta na evolução dos museus em Portugal.
Actualmente o papel da associação evoluiu: embora seja um dos consultores, privilegiados sempre que se torne necessário auscultar os problemas dos museus portugueses ou ajudar a resolver dúvidas postas por estes, penso que ela está hoje mais vocacionada para a vida associativa tal como Colóquios e outras reuniões de sócios, cursos de formação permanente e especializada, conferências de técnicos nacionais e estrangeiros, visitas de estudo, contactos com as suas similares nos outros países, etc.
Hoje, ao relembrar os 17 anos de actividade intensa em que liderei a Apom, (1974-1991) apresentados de uma forma sequencial e analítica, sinto que ficou por dizer a autentica paixão com que foram pensados, realizados, vividos.
. Quanta luta, quanta dúvida, quanto esforço! Quanta necessidade de tempo; as 24 horas do dia não chegavam para tudo : profissão ultra absorvente, família em crescimento e a Apom exigindo sempre mais :mais reuniões, mais estudos, mais relatórios, mais projectos, mais visitas, mais aulas, mais Colóquios e mais desilusões !
Não posso deixar de mencionar o acréscimo de esforço que uma falta de sede própria constituía, sempre dependentes do Museu ou instituição que nos quisesse albergar
( problema hoje finalmente ultrapassado) e a sempre presente dificuldade da falta de verbas inviabilizando, por vezes, iniciativas da maior actualidade.
Éramos um grupo de colegas que, pelo o prazer de trabalhar em conjunto, se transformaram em verdadeiros Amigos. Pela causa dos nossos museus tudo valia a pena!
Devo dizer que pouco me teria sido possível fazer se não contasse com o conselho e o apoio incondicional dos muitos elementos das várias Direcções a que presidi, dos diferentes grupos de trabalho que apresentaram sugestões muito válidas e dos sócios em geral, nos quais senti sempre carinho e incentivo para continuar em frente.
Não posso esquecer a minha família, que tantas vezes ficou em segundo lugar na minha lista de prioridades, mas que sempre me incentivou, me prodigalizou uma opinião quando necessária e me acompanhou em muitas ocasiões ( O Ricardo, que tinha apenas 4 anos em 75, secretariou o Colóquio do Funchal em 91, a Joana , que tão cedo nos deixou , ficou encantada com “as casinhas dos homens antigos” quando visitou com a Apom os dolmens da região de Évora, a Eugénia foi secretária da Apom enquanto esta esteve sediada no Museu de Arte Popular e o meu marido, além de participante, foi conselheiro experiente em muitas deslocações da Apom)
A TODOS .EM NOME DA APOM E DOS MUSEUS DE PORTUGAL, O MEU MUITO OBRIGADO POR TUDO AQUILO QUE REALIZAMOS EM CONJUNTO COM TANTO ENTUSIASMO, FAZENDO VOTOS PARA QUE AS NOVAS GERAÇÕES DE MUSEÓLOGOS CONTINUEM NO MESMO ESPÍRITO A APROFUNDAR E POR EM PRATICA A CIENCIA MUSEOLÓGICA.
Miraflores 2 de Setembro de 2005
Maria Manuela S.O. Mota
Legenda: Reunião com os grupos parlamentares na Assembleia da República.